sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Essa "onda" de "mulher burra" é um perigo!

DESCONSTRUINDO A “BURRICE”
Desconstrução é algo latente na contemporaneidade, via de regra, não é um modismo como muitos argumentam, mas entendo como uma luta continua contra as relações de poder que urdem na sociedade.O site muleburra.com, por exemplo, traz um aspecto construído ao longo de séculos, a idéia de que a mulher no seu aspecto mais natural, é burra. Este discurso certamente está alicerçado na dialética da, também construída, inteligência masculina naturalizada. Gostaría, também, de levantar uma demanda que consideramos importante, a questão da reiteração da mulher como burra.Esta problemática não será discutida aqui, mas ressalto o risco da reiteração deste discurso. Entretanto as autoras do muleburra.com acabam por mexer um pouco com este aspecto, mas, ironizando: se as mulheres são burras de fato, elas o são pela “paixonite” pelo  público masculino.No caso das burraldas, é perceptível a ligação indireta com o discurso feminista, pois entendo que, quando as mesmas resolvem por meio da linguagem, do texto, falar deste “universo feminino” que assombram as mulheres, a desilusão amorosa, por exemplo, podemos afirmar os mecanismos de resistência destas mulheres, uma vez que elas se utilizam da palavra, do discurso, algo que historicamente estava sob o domínio do sexo masculino.Assim no artigo intitulado “Comunidades de práticas: Lugar onde co-habitam linguagem, gênero e poder”,  traduzido por Ostermann e Fontana, ECKERT e MCCONNELL-GINET, (2010, p.93) diz, “por um lado, a linguagem tem sido vista como suporte da dominância masculina; por outro lado tem sido considerada como recurso para as mulheres que resistem à opressão ou perseguem seus próprios projeto e interesses”. Bakhtin(2003, p.) defende, ainda que: “todo os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem”. O que é importante pensar é que as internautas mesmo quando voltam-se  para o site tentando achar respostas para perguntas que parecem tão obvias, mas por causa da burrice que as acomete ficam impossibilitadas de enxergar o óbvio,  neste momento entram as autoras. “Aqui a gente responde tudo que você sempre quis saber, mas sempre teve medo, e vergonha, de perguntar”. Observemos, ainda, como a forma hilária dos argumentos das autoras dialogam com o que está aí há mais de séculos, a repressão em torno da mulher.Deste modo,pensar as questões de gênero na sociedade é pensar uma das formas de fundação desta mesma sociedade.Ou talvez a questão de gênero esteja em todas as situações sociais, podendo ela aparecer de forma forjada , implícita ou até mesmo explicita.Pensar por este ângulo é possível quando identificamos uma sociedade escriptocentrada ligada diretamente ao androcentrismo. O risco, porém, é que a verdadeira eficácia e a seriedade dessa interação são extinguidas quando isolamos sem discernimentos crítico, o gênero e o discurso, dos exercícios que envolvem a sociedade, nas quais são conjuntamente produzidos e se mesclam com outros fenômenos simbólicos sociais, como bem argumenta Saffioti (2002), “Não apenas no que concerne a relação de gênero,mas também atingindo as interétnicas e as de classe; pode-se afirmar que mecanismos de resistência estão  sendo alcançados com maior ou menor êxito”.

Fabiana Campos


 MULÉ É UM BICHO BURRO MERMO!” COMO ASSIM? Breve análise do site muléburra.com. Fabiana Campos dos Santos. (Parte) do trabalho apresentado à  disciplina gêneros textuais em Língua Portuguesa orientado pela Profª Dra.Edleise Mendes

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